sexta-feira, dezembro 02, 2011

e o último sopro é uma flor seca, vasos sem aroma na brancura geométrica das pedras.

claire de lune – debussy

[Amelw Wewaller-Óleo sobre tela]

diariamente o sentimento prende-se
àqueles cujo olhar absorve o lado
sombrio de uma árvore em combustão.

noites de fogo e malvasia nos lábios.

um acorde e uma lua cheia de imprevistos
na claridade de uns olhos que perguntam
coisa nenhuma que é uma forma
de se interrogar quase tudo.
será que não tem mais encanto ainda, a lua,
depois de ser pisada pelo homem?
ainda há quem faça versos e
tenha as respostas todas num bater de cílios.

um cão lambe os dedos
e o dia transparece no rodar frenético
dos carros. deuses, mentecaptos, néscios
na margem das estradas clareadas.
um poema nasce e morre à intensidade
de um acidente e o último sopro
é uma flor seca, vasos sem aroma
na brancura geométrica das pedras.

que sentir é este onde os ciprestes
e os álamos vivem do húmus
resto de restos de ossos e vermes?

José Félix


3 comentários:

  1. José Félix,
    "{...}na claridade de uns olhos que perguntam
    coisa nenhuma que é uma forma
    de se interrogar quase tudo."
    Senti essa claridade nos olhos da alma de sua
    poesia.
    Parabéns.
    Belíssima!
    Eliana Crivellari

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  2. O poeta tange a imagética, qual pura melodia:
    ...olhos que perguntam
    coisa nenhuma que é uma forma
    de se interrogar quase tudo.
    Belo!
    Livia Abdala-Líbano

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