domingo, dezembro 11, 2011

numa tarde que o rosto encontra, enfrenta a ressa de sol que atravessa os galhos.

- O fazer poético de José Félix _



Do Fogo - Um Olhar

um olhar

um fogo frio é o gume aceso
da fala que se despe de seus lábios,
é a substância, o pó que poliniza
o beijo fértil no vaso de azálias.

a água, sede no rio da planta,
viaja murmúrios e ventos e folhas
numa tarde que o rosto encontra, enfrenta
a ressa de sol que atravessa os galhos.

catulo desejava beijos mil,
um cento só e mais mil beijos de lésbia
e se perdessem ambos no conto útil.

um olhar basta-me para que a névoa
espelhe o lume brando, um fogo lábil
preso numa palavra nua, sábia.

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A Penumbra


de repente misturo-me
na penumbra
que entra sem pedir.
intrusa
conquista a casa, cada
geometria da habitação
perdem-se as arestas
os espelhos reflectem sombras
no cio do silêncio.
a palavra
só a palavra renasce
a estrutura dos objectos.
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Porque se morre de amor


procurou-se nos livros já antigos
e até nos mais recentes a explicação
da atitude de querer morrer de amor.
porque é de um gesto que se trata,
morrer de amor é ter o pressentimento
da impermanência do outro. sem memória não
se resgata a beleza de um sorriso nem
a brevidade do sexo extasiado,
na dádiva constante do corpo e
de um roçar simples dos sentidos.
e morrer de amor é viver do amor
no último grito dado na catedral,
no eco das naves de pedra, polida
de cânticos e sons e vozes velhas.
direis vós. porque se morre de amor?

há uma flor sem uma pétala viva
por isso corta cerce com as mãos
o fio de sol que liga ao caule novo.
não importa que a seiva escorra para a boca
se os lábios frios não polinizam o beijo
que a vida importa de outro corpo aberto.

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Outonal

chove.

O teu corpo junto
ao meu desliza táctil
a rima no rumor da água.

a árvore molhada
goteja campainhas na folhagem
caída.

Ouve-se o vento
a fala, o sopro na seda dos cabelos.

As mãos abraçam o tronco
num beijo de chuva.

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josé félix

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